Gostaria muito de iniciar este escrito positivamente, no entanto, não posso me iludir e, muito menos, iludir os poucos – diria até raríssimos – leitores/amigos que me acompanham por estas linhas. Apenas me comprometo a não fugir muito da realidade – a de vocês é claro. Falar de comoção pública no Brasil é algo prosaico. Somos um povo solidário com a dor do outro, temos o costume de conversar e conhecer os nossos vizinhos e até, se se fizer necessário, costumamos cuidar daquele a quem nunca vimos antes. Por tudo isso que foi citado, afirmo com veemência que os brasileiros vivem em um perene estado de comoção, esse no sentido extremo da palavra. Geralmente a comoção nacional está relacionada a tragédias que abalam a tão frágil estrutura social sonhada e nos coloca frente aos contratempos da vida real. Um exemplo não muito distante foi o caso de João Hélio, menino de seis anos que foi arrastado por aproximadamente sete quilômetros preso a um cinto de segurança. Não se faz necessário detalhar o acontecido. Acredito que ainda esteja vivo na lembrança dos brasileiros que viram nos noticiários relatos sobre o crime por repetidas vezes. O caso foi moído e remoído pela mídia, sendo, durante quase três semanas, a notícia principal de metade dos noticiários. As manchetes faziam sempre referencia ao crime hediondo que chocou o país e, seguindo a música tocada, o país, de fato, se emocionou com o drama e ficou, como de costume, alarmado. O Brasil, mais uma vez, chorava e clamava por justiça. O desejo era que os bandidos que fizeram a tal atrocidade fossem julgados e condenados. Mais uma vez. Semelhante ao caso de João Hélio é o caso de Isabella Nardoni, menina de cinco anos lançada, supostamente pela madrasta e pelo pai, do sexto andar de um prédio em São Paulo. E mais uma vez o país se comoveu. A justiça é clamada e os brasileiros choram a dor da família. Os noticiários, mesmo sem novidades, voltam a cada edição ao episódio e, assim, como no acontecimento de João Hélio, exibe a revolta compartilhada pelos brasileiros. Poderia citar vários outros exemplos que mostrem o estado constante de comoção pública que esta habituados. Nesses casos os familiares das vítimas não choram sozinhos, sempre há o outro para oferecer as lágrimas, o lenço, o ombro e até mesmo a revolta. O que a meu ver não existe é a ação para mudarmos algo. A comoção por si só não tem adiantado muito. A violência não deixa de ser menos violência e os bandidos – esses criados por nossas displicências e pela ineficiência governamental – não são transportados para um mundo só deles, permanecem aqui, junto a todos nós, podendo nos alcançar ao estender os braços. E aí, de que vale a comoção sem ação? No meu perfil deste alucinado blog eu me denomino alguém iludido que acredita poder encontrar algo que mude o mundo. Esta aí, não é mentira. Realmente acredito que algo pode ser feito. Mas sei que não existe muita disposição para tal, pelo menos aqui no Brasil, é a ele que me refiro. Caminhadas públicas, pressões a autoridades competentes (quais seriam elas?), longos textos cansativos em blogs que não tem leitores – exceto os alunos da disciplina e o professor - poderiam ser um início de algo. Tudo isso, é óbvio, praticado constantemente, independente de qual crime foi cometido e qual região, dessa vez, foi atingida. Devemos mudar de estado. Que tal sairmos da comoção perene e partimos para a ação incisiva e funcional. Vamos parar o trânsito amanhã, na semana seguinte e mais adiante vemos o que pode ser feito.
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