sexta-feira, 18 de abril de 2008

É espetáculo e pronto!!!

Na sala de aula de uma das mais renomadas faculdades de comunicação da Bahia a professora, recém chegada da França (não tenho bem certeza. Sei apenas que foi de um desses países de primeiro mundo aos quais esses professores vão para respirar ar civilizado), portanto embevecida e deslumbrada com o primeiro mundo e suas inesgotáveis possibilidades, pergunta: _O tele jornalismo enquanto instituição social tem um papel fundamental na sociedade. Qual de vocês sabe me apontar essa função destinada ao jornalismo? Guilherme (eu usaria Joãozinho, mas não se trata de qualquer faculdade), alvoroçado na cadeira desconfortável (falta de estrutura, dizem que não se pode ter tudo!!!), levanta os braços e olha com provocação para a professora, ao que responde tentando fazer graça: _ Bom professora, sei que a senhora espera que encaremos o telejornalismo enquanto instituição social séria e respeitável, contudo, o papel do telejornalismo, no Brasil, ainda não se encontra exatamente definido. Posso apenas expor as duas possibilidades mais prováveis, mim baseando é claro, no que se vê. A primeira é que o telejornalismo tem a função de distrair os cidadãos enquanto a novela não começa e a segunda possibilidade, porém não menos importante, é a de que o telejornalismo serve para transformar os problemas e as tragédias sociais em atrações circenses. Após responder a pergunta, Pedrinho olhou para a turma que se encontrava em estado de choque e desconcertados diante da situação e, sem muitas certezas, perguntou à professora: Então, minha resposta está certa? O silêncio presente transformou-se em gargalhadas descontroladas e a professora, tentando não rir da situação, replicou: _Acredito que sim, se nos basearmos no que vemos. No entanto, se você tivesse lido qualquer um dos textos que, insistentemente, os professores de comunicação costumam passar para os alunos, você responderia com mais segurança que o papel do telejornalismo enquanto instituição social é o de produzir e apresentar teatro, ou seja, promover a “espetacularização” dos fatos sociais e transformar o cotidiano em uma grande peça teatral. Trata-se de encenação e não apenas de circo, Guilherme. Após a resposta oportuna da professora, ao término da aula, os alunos foram para a varandinha da faculdade (lembrando que qualquer semelhança é mera coincidência) e tentaram discorrer sobre o acontecido na aula. O debate não rendeu muito porque eles estavam ocupados com outras questões que estavam embaçadas em suas mentes. Ao chegar a sua casa, Guilherme, um assíduo telespectador dos telejornais, ligou a televisão e viu, mais uma vez, dados sobre o caso da menina Isabella Nardoni. A resposta da professora veio-lhe a mente e ele pensou: _ “Se o telejornal é um teatro, quem é o diretor? E os atores principais, quem são? Ah, meu Deus, esses professores querem me deixar é louco. Mas eles não vão conseguir. O telejornalismo deve servir de algo ou para algo sério e concreto. Se não tivesse razão de ser ele não seria e pronto”. Naquela noite, Guilherme sonhou que se tornara notícia em todo o país. Não conseguia saber qual era o motivo, mas sabia que deveria ser algo relevante. Afinal, do contrário, não seria notícia, ora!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pecados novos a vista???

Segundo o Papa Bento XVI, sim. E não existem só os antigos. Agora, temos os novos pecados instituídos e legitimados pela Igreja Católica। Os que praticávamos não eram suficientes para o novo Papa – não tão novo assim.
Para Bento XVI a atualização dos pecados se fez necessária por vivermos, atualmente, em um mundo globalizado। Logo foi preciso uma adaptação dos pecados a tal realidade nova.
“A queda do sentimento de pecado no mundo secularizado” foi o que motivou o Papa a tomar essa iniciativa. Os novos pecados foram incorporados aos antigos e devem ser seguidos por todos os cidadãos católicos no mundo inteiro. Entre os novos pecados estão o uso de drogas, a manipulação genética, a poluição ambiental e a desigualdade social que aumenta a injustiça social e que, por conseguinte, alimenta a pobreza extrema. Quem fica muito rico também peca, sem falar naquele que causa a pobreza – o responsável direto. Todas essas iniqüidades, se cometidas pelo fiel, deve ser confessado imediatamente a fim de receber a punição equivalente e pleitear um lugar no Céu. Diante dessa nova lista de pecados só se pode chegar a poucas conclusões. Uma delas é a de que os políticos brasileiros devem se confessar imediatamente e, o garoto que pega o baseado na escola, também, não pode perder tempo. Até porque, antes não existiam dúvidas quanto ao inferno, sabíamos o quanto ele era ruim, no entanto, hoje já não podemos afirmar muito sobre ele. Se tiverem dúvidas quanto a procurar um padre ou não, lembrem-se apenas que o inferno – esse que conhecemos – sempre foi pior do que o mundo que vivemos e, se esse mundo já está assim, imaginem os horrores que não deve estar o novo inferno.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

É mais um caso de comoção pública

Gostaria muito de iniciar este escrito positivamente, no entanto, não posso me iludir e, muito menos, iludir os poucos – diria até raríssimos – leitores/amigos que me acompanham por estas linhas. Apenas me comprometo a não fugir muito da realidade – a de vocês é claro. Falar de comoção pública no Brasil é algo prosaico. Somos um povo solidário com a dor do outro, temos o costume de conversar e conhecer os nossos vizinhos e até, se se fizer necessário, costumamos cuidar daquele a quem nunca vimos antes. Por tudo isso que foi citado, afirmo com veemência que os brasileiros vivem em um perene estado de comoção, esse no sentido extremo da palavra. Geralmente a comoção nacional está relacionada a tragédias que abalam a tão frágil estrutura social sonhada e nos coloca frente aos contratempos da vida real. Um exemplo não muito distante foi o caso de João Hélio, menino de seis anos que foi arrastado por aproximadamente sete quilômetros preso a um cinto de segurança. Não se faz necessário detalhar o acontecido. Acredito que ainda esteja vivo na lembrança dos brasileiros que viram nos noticiários relatos sobre o crime por repetidas vezes. O caso foi moído e remoído pela mídia, sendo, durante quase três semanas, a notícia principal de metade dos noticiários. As manchetes faziam sempre referencia ao crime hediondo que chocou o país e, seguindo a música tocada, o país, de fato, se emocionou com o drama e ficou, como de costume, alarmado. O Brasil, mais uma vez, chorava e clamava por justiça. O desejo era que os bandidos que fizeram a tal atrocidade fossem julgados e condenados. Mais uma vez. Semelhante ao caso de João Hélio é o caso de Isabella Nardoni, menina de cinco anos lançada, supostamente pela madrasta e pelo pai, do sexto andar de um prédio em São Paulo. E mais uma vez o país se comoveu. A justiça é clamada e os brasileiros choram a dor da família. Os noticiários, mesmo sem novidades, voltam a cada edição ao episódio e, assim, como no acontecimento de João Hélio, exibe a revolta compartilhada pelos brasileiros. Poderia citar vários outros exemplos que mostrem o estado constante de comoção pública que esta habituados. Nesses casos os familiares das vítimas não choram sozinhos, sempre há o outro para oferecer as lágrimas, o lenço, o ombro e até mesmo a revolta. O que a meu ver não existe é a ação para mudarmos algo. A comoção por si só não tem adiantado muito. A violência não deixa de ser menos violência e os bandidos – esses criados por nossas displicências e pela ineficiência governamental – não são transportados para um mundo só deles, permanecem aqui, junto a todos nós, podendo nos alcançar ao estender os braços. E aí, de que vale a comoção sem ação? No meu perfil deste alucinado blog eu me denomino alguém iludido que acredita poder encontrar algo que mude o mundo. Esta aí, não é mentira. Realmente acredito que algo pode ser feito. Mas sei que não existe muita disposição para tal, pelo menos aqui no Brasil, é a ele que me refiro. Caminhadas públicas, pressões a autoridades competentes (quais seriam elas?), longos textos cansativos em blogs que não tem leitores – exceto os alunos da disciplina e o professor - poderiam ser um início de algo. Tudo isso, é óbvio, praticado constantemente, independente de qual crime foi cometido e qual região, dessa vez, foi atingida. Devemos mudar de estado. Que tal sairmos da comoção perene e partimos para a ação incisiva e funcional. Vamos parar o trânsito amanhã, na semana seguinte e mais adiante vemos o que pode ser feito.